domingo, 13 de setembro de 2009

7- Fim de uma época

Em 1 de Junho de 1929, João Pedro Ruivo despediu-se dos leitores do Notícias de Campo Maior, para ir continuar a sua carreira de funcionário público como tesoureiro da Fazenda Pública na vila de Borba. Há homens que, com a sua acção, marcam profundamente a vida das comunidades em que se integram. Logo a seguir, o jornal deixou de se publicar. Os dois velhos rivais, que no último quartel da década anterior tinham animado a vida desportiva da vila, parecem ter entrado num sono profundo que, para o Vitória Foot-Ball Club, terminaria com o seu desaparecimento pouco depois e de que o Sporting Club Campomaiorense só iria recuperar no final dos anos 30.

A partir de meados de 1929, notícias sobre Campo Maior, só as que os jornais de Elvas ou de Portalegre, de quando em vez, publicavam. Poucas e muito sucintas não permitem uma visão desenvolvida do estado do futebol na vila. O Sporting Club Campomaiorense parecia ter-se eclipsado.

Numa notícia de 3 de Novembro de 1929, o jornal elvense O Leste, relatava que a 27 de Outubro se tinha realizado um desafio entre o Sport Lisboa e Elvas e o Sporting Club Campomaiorense com o resultado de 5-0 favorável aos de Elvas. Dizia o jornal: O Sporting de Campo Maior é um club fraco em que apenas um jogador, Paiva Dias, é um regular guarda-redes. O encontro decorreu sem interesse dada a desigualdade entre os dois grupos.

Em de 12 de Fevereiro de 1933, um correspondente local do Jornal de Elvas, Marciano Ribeiro Cipriano, noticiava:

Realizou-se no passado domingo ( em Campo Maior ) um desafio treino entre o "team" de honra do Sporting Club Elvense, e o Campomaior Sport Club.

O resultado no final dos 90 minutos, foi de 4-0 a favor do grupo visitante, resultado que aliás não traduz o jogo desenvolvido, pois que o Sporting Elvense com uma linha de peso - em comparação com a nossa - não produziu o foot-ball que se esperava...

Do Campo Maior Sport Club há a lamentar a falta de treinos o que contribui para a grande ausência de folego que se notou.

No jogo desenvolvido, não foram inferiores ao "team" visitante, e só a falta de "chance" em duas ocasiões perigosas, não modificou o marcador.

Como se vê, dos antigos clubes que imperavam na vila nos últimos anos da década de 30, não há qualquer notícia.

Campo Maior, neste período, é uma terra esquecida e ignorada. É um lugar onde se nasce para um dia de lá se abalar ou donde nunca se chega a sair. Não é terra de passagem. É apenas lugar de partidas e de chegadas, raras porque não tem estradas que facilitem o acesso. Era enorme o isolamento numa época em que além dos correios e do telégrafo não havia outros meios de comunicação. A primeira cabine telefónica só foi instalada em 9 de Julho de 1933. As estradas eram de tal modo intransitáveis que uma visita à vizinha aldeia de Degolados, ganhava foros de grande aventura. Repare-se neste relato da festa da anexação da Freguesia de Degolados ao Concelho de Campo Maior, em 19 de Dezembro de 1926: Iniciou-se a partida às duas horas da tarde. Oito automóveis repletos de gente, não falando na grande quantidade de pessoas que a camionete do Sr. Peguinho, em serviço de carreira, despejou em Degolados e não falando tambem nas numerosas pessoas que foram em carros e a pé. Rompeu a caravana o automóvel do Sr. Corte-Real Mascarenhas que foi vencendo como poude os numerosos obstaculos que a certo momento surgiram na estrada nova do governo ... todos os automóveis tiveram de cortar pela estrada velha porque a nova estava intransitável.

O isolamento, a crise social e económica, a falta de um campo de futebol, eram demasiados obstáculos a vencer por uma população tão deprimida pela tristeza da época que se atravessava. A situação política também não era favorável. Os tempos eram mais de suspeições e de perseguições do que de convívios e de encontros. A ameaça de uma nova guerra pairava de novo sobre a Europa. Aqui ao lado, na Espanha, a Guerra Civil espreitava.

O futebol exige alegria, entusiasmo, vigor físico, empenhamento. Os tempos não corriam a favor do desporto nesta pequena comunidade esquecida num recanto junto à raia de Espanha.

De novo, em 9 de Agosto de 1933, no Campomaiorense que se voltara a publicar, uma notícia dava conta de um desafio de futebol em Arronches, entre o Campo Maior Sport Club que equipava de negro e o Foot-Ball Club Arrochence que equipava de camisola branca e calção preto. O desafio terminou com a vitória dos de Campo Maior por 4 a 2, tendo sido os melhores em campo os jogadores visitantes Manuel Dias, Francisco Marchã e José Afonso. Repare-se que estes jogadores tinham anteriormente alinhado uns pelo Sporting Club Campomaiorense e outros pelo Vitoria Foot-Ball Club. Que era feito dos dois prestigiosos clubes?

O Sporting Club Campomaiorense parece que continuava a existir, porque em 15 de Maio de 1934, o mesmo jornal referia: No passado domingo realizou-se um encontro entre o "team" infantil do Sporting Club Campomaiorense e as primeiras categorias do Foot-Ball Degoladense. Como os jogadores de Degolados, depois de uma actuação incorrecta e descortez, tenham abandonado o campo antes dos 90 minutos de jogo, foi este anulado, por entre protestos da assistência que reprovou as violências praticadas...

É de lamentar o sucedido, pois que semelhantes atitudes de forma alguma se compadecem com aquele espirito desportivo que deve presidir à prática de todos os desportos e do qual fazem parte integrante a lealdade e correcção aconselháveis em todas as competições inter-clubs.

No início dos anos trinta, perdominavam os desafios de carácter particular. No Alto Alentejo, apenas as cidades - Elvas, Portalegre e Évora - dispunham de campeonatos organizados pelas suas próprias associações. Claro que existia já o Campeonato de Portugal. A Voz de Portalegre de 21 de Fevereiro de 1932 explicava: Segundo o actual Regulamento da Associação Portuguesa de Futebol, o Torneio de Classificação Distrital deve realizar-se até 20 de Março, devendo a respectiva comunicação ser recebida em Lisboa até 22, comunicando qual o club campeão do distrito.

Apurados os vencedores dos Torneios de Classificação Distrital, realizar-se-á em 27 do mês o Torneio De Classificação Distrital, entre os referidos campeões, no campo de um dos contendores por sorteio ou acordo e que, segundo aquele acordo, cabe a Portalegre jogar com Santarém, devendo a comunicação dizendo qual foi o vencedor, ser recebida em Lisboa até ao dia 29.

Em Abril realiza-se a primeira eliminatória da Competição de Honra - Campeonato de Portugal - cujo torneio terminará em fins de Junho. A nível do Campeonato Distrital, em Portalegre, na década de trinta, apenas estavam inscritos na associação da cidade os seguintes clubes: Grupo Desportivo de Portalegre, Sport Club Estrela, Sport Lisboa e Portalegre e Alentejo Futebol Club. Em Elvas, só o Sport Lisboa e Elvas e o Sporting Club Elvense se candidatavam ao torneio para apuramento do campeão distrital. Em Évora o Lusitano Ginásio Club e o Juventude de Évora competiam entre si e com o Estremoz Futebol Club.

Claro que o Campomaiorense nada tinha a ver com estes campeonatos. Aliás o clube parecia ter desaparecido de cena. Apenas por notícias dispersas sabemos que continuava a existir. Segundo o jornal de Portalegre A Rabeca, um dos seus jogadores foi reforçar o clube de Arronches que em 18 de Outubro de 1938 defrontou em jogo particular o Sport Lisboa e Portalegre.


João Ruivo

Equipa anos 35


uma obra de Joaquim Folgado e Francisco Galego