Não possuímos provas documentais que nos permitam determinar com rigor o aparecimento dos primeiros grupos a dedicar-se à pratica do futebol em Campo Maior.
Existem algumas indicações de que, já antes do começo da Primeira Grande Guerra, tinham existido grupos de rapazes que ensaiavam os primeiros chutos na bola aproveitando as esplanadas dos antigos fortes do Cavaleiro e doRibeirinho, o fosso terraplanado que viria a ser o Jardim das Viúvas, onde actualmente se situa o Lar Betânia, a terra batida do espaço onde se construiu o Jardim da Avenida, ou o Campo do Rossio, quando não estava ocupado com as eiras pois era aí que a população fazia a debulha dos cereais e o apuro da palha. Este campo do Rossio foi arranjado pela Câmara, para a prática do futebol no começo dos anos vinte e foi o campo normalmente utilizado pelos grupos da terra quando disputavam entre si desafios ou quando recebiam grupos de terras vizinhas, principalmente Elvas, Portalegre ou Badajoz. O campo que não dispunha de balizas fixas - improvisavam-se como dois paus a servir de postes ligados por uma corda a fazer de trave - nem sequer possuía as medidas regulamentares; mas foi o único espaço disponível para a prática do futebol até se tornar possível a utilização do Campo Capitão César Correia, no início dos anos 40 .
Dos grupos que primeiro se terão constituíndo e que se extinguiram com a Primeira Grande Guerra, ficou apenas memória de um que se chamava 5 de Outubro Foot-Ball Club; mas, mesmo este, tinha cessado por completo as suas actividades no início dos anos 20.
Nada podemos afirmar sobre quando e como terá chegado a Campo Maior o conhecimento e a prática do futebol. O mais provável é que tenha sido trazido por jovens da terra que estudavam em Lisboa ou em Coimbra, pois em ambas as cidades, o futebol se desenvolveu desde muito cedo.
De concreto apenas podemos encontrar testemunhos de que, antes da guerra de 1914-1918, existiam em Campo Maior grupos que se dedicavam à prática do futebol.
O jornal de Elvas O Leste, em Julho de 1915, referia os nomes dos clubes que, em Elvas, se dedicavam à prática do futebol: Sport Club Progresso, União Desportiva Elvense, e Grupo Académico. Segundo o jornal, a prática do futebol já estava antes instalada nos hábitos da juventude pois “ Houve uma época, que o amôr do foot-ball era como que uma doença que atacava a mocidade... a cada passo, ao dobrar da esquina ou no meio de qualquer rua, tinhamos que nos esquivar ... para evitar o ímpeto de uma bola de trapo com que a juventude se divertia.
O mesmo jornal, em Fevereiro de 1916, em crónica assinada por J.R. que, quase de certeza terá sido escrita pelo punho de João Ruivo, noticia a realização de um desafio em Campo Maior entre o União Desportiva Elvense e o Club Desportivo 5 de Outubro tendo este alinhado com: Mourato, José Ruivo, Guitano, Saragoça, João Ruivo ( Captain ) , Garcia, Botica, Sérgio e Alberto Mourato, porque na 1ª parte faltaram Serafim e Ensinas. Segundo o cronista: O grupo 5 de Outubro, mostrou-se ainda pouco conhecedor das passagens, chutando com muita força dando em resultado entregarem constantemente a bola aos adversários e limitando-se à defesa durante quasi todo o jogo pois fizeram poucas e mal rematadas avançadas.
Na segunda parte, quiçá por entrarem nos seus logares os jogadores que haviam faltado à primeira, jogou-se com mais calor, defendendo melhor o 5 de Outubro, pelo que se não marcou mais nenhuma bola, contribuindo tambem para isso o facto do half-centro do União Desportiva Elvense ter abandonado o campo por motivos estranhos ao desafio...
Findo o desafio (com o resultado final de 3-0, golos marcados na 1ª parte),
Vitoriaram-se os grupos com os hurrahs do estilo, indo em seguida abancar no Gavião Branco onde foi servido um lanche pelo 5 de Outubro.
Bom seria que os senhores jogadores do 5 de Outubro se convencessem de que a disciplina é a base do Association e que em vez de andarem a flirtar pelas calles se lembrarem dos seus compromissos.
João Ruivo, grande animador cultural desde os tempos que se seguiram à Implantação da República, foi um dos seus principais praticantes. Da sua biblioteca fazia parte um livro sobre futebol, O Football-Indispensavel a todos os jogadores- de Joseph Manchon editado em 1910 em Lisboa e que deve ter constituído o manual que orientou as primeiras experiências feitas em Campo Maior para se praticar o futebol com alguma seriedade. Há entre os documentos que João Ruivo deixou, uma cópia manuscrita dos estatutos que ele próprio redigiu para o Club Desportivo Cinco de Outubro, no qual jogou até ser mobilizado para ir combater nos campos de França.
Na reunião que se fez para a fundação do Club Desportivo Cinco de Outubro e que se efectuou a 5 de Outubro de 1915 numa casa no Largo Dr. Regala, a qual ficou a funcionar como sede provisória, foi aprovado o Regulamento Interno Provisório e foi também deliberado “que se participasse a sua fundação aos seus congéneres Lusitano Sporting Club e Grupo Sportivo Campomaiorense (...) Em seguida alguns dos presentes que pertenciam ao antigo Grupo Sportivo ofereceram para os cofres da nova associação um escudo e cinco centavos que lhes coube por dissolução daquele”.
Na primeira reunião da direcção do novo clube, em 21 de Outubro de 1915, foi lido “um ofício do congenereLusitano Sporting Club, felicitando o Club Desportivo Cinco de Outubro pela sua fundação e enviando como protesto de amizade uma fotografia da sua equipa de futebol e um cartão individual do cidadão João Botica, do Grupo Sportivo Campomaiorense no sentido do anterior”.
É tudo o que sabemos destes dois clubes, provavelmente, os mais antigos que existiram em Campo Maior. Não sabemos quando foram fundados, nem quando se extinguiram, embora, pela acta da reunião fundadora do Cinco de Outubro, pareça que o Grupo Sportivo se dissolveu aquando da fundação do novo clube. Quanto ao Lusitano, parece ter continuado, disputando desafios com o Cinco de Outubro no Campo do Rossio. Podemos ter a certeza de que havia jogos no Campo do Rossio, como se pode deduzir da análise da contabilidade e do inventário dos bens doClub Desportivo Cinco de Outubro onde aparecem inscritas verbas atribuídas ao guarda do tanque do Rossio por guardar as duas bolas, as quatro traves e as duas cordas das balizas que o clube tinha adquirido para se usarem no campo de futebol.
Por decisão da Assembleia Geral de Maio de 1916, a Secção de Desportos do Clube Desportivo Cinco de Outubropassou a designar-se Sport Club Esperança mas, a Guerra de 1914-1918 começara a levantar grandes dificuldades quer a nível do pagamento das quotas, quer por causa do recrutamento de jogadores e de sócios para o exército. Em consequência, na reunião da direcção de 5 de Junho de 1916, foi decidido “suspender a cobrança da associação e paralisar-se temporariamente toda a vida do clube”. Assim terminava o Club Desportivo Cinco de Outubro. Só nos anos vinte voltarão a aparecer notícias referindo a existência de clubes de futebol em Campo Maior.