domingo, 9 de agosto de 2009

16- Um viveiro de estrelas

A década de 90 foi, efectivamente, A “década de ouro” para Sporting Clube Campomaiorense. Foi neste período que se verificou uma aposta forte no futebol, com o objectivo de levar o clube até ao mais alto nível do futebol português.

Esse objectivo foi conseguido em apenas cinco anos, mas, para tanto, foi necessário recrutar atletas de um outro nível, mais elevado, que garantissem uma qualidade e eficácia que coadunassem com os objectivos propostos. Com a profissionalização dos atletas, e treinadores, do clube, muitos foram os que tiveram a honra de vestir a camisola e representar o Sporting Clube Campomaiorense ao longo dos anos. Seria exaustiva a lista de todos os jogadores que passaram por Campo Maior durante a chamada “década dourada” do clube, pois foram muitos.

Todos eles, sem excepção, contribuíram para os êxitos alcançados nos vários períodos de ascensão do clube. A grande maioria desses atletas, conhecidos na altura, acabaram por passar despercebidos com o decorrer dos anos. Porém, outros houve a quem aconteceu precisamente o contrário e, ainda hoje, são nomes sonantes do futebol português. O Sporting Clube Campomaiorense acabou por ser, nalguns casos, um clube que serviu de rampa de lançamento para alguns jogadores singrarem na ribalta do futebol nacional e internacional.

Os casos mais evidentes são os de Litos, actualmente no Boavista, João Manuel Pinto, no Futebol Clube do Porto, Beto, no Sporting Clube de Portugal e Lito no Belenenses. Todos eles, na fase inicial da sua carreira, vestiram a camisola do Campomaiorense, em várias e distintas épocas. Bem se pode dizer que foi o Campomaiorense que os catapultou para a ribalta do futebol.

Para além dos jovens atletas, outros já consagrados, também por aqui passaram e deram o seu contributo para o enriquecimento e grandeza do Campomaiorense, como foi o caso do brasileiro Isaías, que depois de representar o Boavista, o Benfica, e ter jogado na Inglaterra, defendeu as cores de Campo Maior com um enorme sucesso durante duas temporadas.

Se os atletas que referimos, depois de representarem o Campomaiorense, conseguiram chegar ao mais alto nível do futebol nacional e internacional, um deles ultrapassou todas as expectativas e é hoje um dos melhores avançados da Europa, e talvez do mundo. Estamos a falar de “Jimmy”, actual atleta do Chelsea de Inglaterra. Que melhor descrição para a passagem deste jogador por Campo Maior do que aquela que o jornal Record, na sua edição de 27 de Março de 2001, fazia, quando o atleta se encontrava em Portugal por ocasião do jogo Portugal – Holanda, de apuramento para o mundial de 2002, que acabou empatado a duas bolas, e no qual “Jimmy” marcou um golo.

André Macedo, jornalista do referido diário desportivo escrevia:

“Em cinco anos o avançado holandês tornou-se num dos avançados mais caros: o Chelsea pagou cinco milhões de contos ao Atlético Madrid. Mas m 1995 ninguém o queria. Sobrou o Campomaiorense.

O herdeiro da camisola 10 holandesa, que pertenceu a Ruud Gullit e Dennis Bergkamp, tem sido nos últimos jogos Jerrel Floyd Hasselbaink. Escrito assim, é possível que se repare apenas no exotismo do apelido.

Mas a verdade é que esconde um futebolista bem conhecido pelo público português: um tal Jimmy, avançado poderoso que já passou pelo Campomaiorense e Boavista, e é hoje o goleador do clube mais pretensioso de Londres, o Chelsea. Vale quase cinco milhões de contos e o Barce­lona parece já tê-lo fixado para alargar para sete a coló­nia de holandeses da equipa.

Jimmy faz hoje (dia 27 de Março de 2001) 29 anos. Mas não é apenas por isso que próximos dias ganham uma importância invulgar. O facto de estar em Portugal tem um efeito especial. Foi aqui, mais precisamente em Campo Maior, que relançou uma carreira futebolística que parecia condenada ao fracasso.

Aos 23 anos ninguém dava um escudo por Jimmy. Consideravam-no medíocre. Gozavam com a forma pouco elegante e desengonçada como caminhava: sempre com os pés para os lados, como o Pato Donald. Era isto que o chamavam. E insistem em chamar, mas com sorrisos contidos. Só agora vale os tais cinco milhões de contos e até o desconfiado Van Gaal o convoca para a selecção.

É por esta razão que Campo Maior vale como um amuleto para o goleador. Afinal, não foi apenas o comendador Nabeiro a fazer fortuna nesta pequena Vila alentejana, tam­bém Jimmy a fez. Aliás, começou a fazer. Chegou para se treinar à experiência durante cinco dias. Bastaram dois para que Manuel Fernandes lhe descobrisse o que os treinadores da melhor escola do futebol europeu nunca tinham reparado. Que Jimmy é um avançado poderosíssimo: 1,80 metros de músculo, elasticidade e gula pela baliza. Trinta e quatro golos pelo Atlético de Madrid, mais de 20 pelo Leeds; 12 pelo Campomaiorense e 20 pelo Boavista. O que lhe falta em técnica sobra em força e tenacidade.

«Manuel Fernandes teve muita visão. É um grande treinador. Deu-me a oportunidade de jogar futebol», repete em português escorreito, sublinhando que «há dívidas que nunca se conseguem pagar»”, referiu Jimmy.

Bem se pode dizer que o Campomaiorense serviu, ao longo destes anos, de viveiro para atletas de alta competição que conseguiram atingir o mais alto nível nas suas carreiras, dos quais Jimmy é o melhor exemplo. Quem sabe, num futuro próximo, mais jogadores que por este clube passam, não irão conseguir atingir o estrelato.

Jimmy com João Nabeiro e Pedro Morcela

Jimmy com João Nabeiro e Pedro Morcela


uma obra de Joaquim Folgado e Francisco Galego