terça-feira, 9 de março de 2010

Entrevista a Manuel Sardinha


Manuel Jacinto Madeira Sardinha, nasceu a 11 de Março de 1966 em Évora, mas viveu até aos 17 anos na localidade de S.Manços (Évora). Este experiente atleta é uma das referências no nosso futsal distrital, destacando-se pela simplicidade e eficácia de processos dentro de campo. Técnico de informática na ULSNA-Hospital Dr. José Maria Grande, evidência-se pelos melhores atributos que um guarda-redes pode ter entre os postes. É fruto da experiência adquirida ou já vem da tua personalidade?
De ambas, os anos de prática e vivencia de futebol 11 e futsal, permitem-nos melhorar e corrigir certos aspectos que vamos descobrindo que estão menos bem, sempre fiz a minha autocrítica no final de cada jogo, isso permite-nos controlo emocional necessário para por em prática nos jogos seguintes, no entanto à aspectos técnicos e físicos que são inatos que apenas temos que melhorar.

O que despertou o M.Sardinha para a prática desportiva?
O gostar muito de desporto, desde muito cedo que comecei a praticar desporto.
Com 9 ou 10 anos jogava futebol com os mais velhos lá na terra, era só haver “uma aberta”. E o que queremos é imitar os nossos ídolos da altura.

Antes de guarda-redes, experimentou outras posições em campo?
Quando era miúdo, gostava de fazer mais 2 posições, a de defesa central e a de Ponta de lança (principalmente) no futebol de 11, no extinto futebol de salão jogava a pivot (raramente a guarda-redes), mas depois oficialmente sempre joguei como guarda-redes.

Antes de chegar ao futsal na SIR, qual o trajecto desportivo?
Iniciei-me no Eléctrico de Ponte de Sor nas época de 78/79 e 79/80 em Iniciados, onde fomos Campeões Distritais na minha 1.ª época, e chegamos às meias-finais da competição (um grupo a norte e outro a sul de 4 equipas cada).
Rumei para Évora para o Lusitano, onde fiz 2 época de Juvenis outra de Júnior ainda com idade de Juvenil, onde representei a Selecção Distrital de Évora (onde atingimos a Final, eliminando Lisboa e Castelo Branco em eliminatórias a 2 mãos, perdendo apenas a final por 1-0 com Braga) e 3 de Sénior na antiga 2.ª divisão (havia 3 zonas, ainda não havia a Divisão de Honra) uma delas ainda com idade de Júnior.
Fui para o Académico de Viseu de 86/87, estive lá 3 épocas, até 88/89, na época 86/87 tive uma chama à Selecção de Esperanças (o equivalente aos sub-21 actuais), na 2.ª época subimos à 1.ª Divisão Nacional e fomos Campeões da 2.ª Divisão Nacional - Zona Centro (com todos os jogos completos), a última época foi na 1.ª Divisão Nacional acabando por descer à 2.ª Divisão.
Saí de Viseu para Penafiel em 89/90 também na 1.ª Divisão, em 90/91 representei o Freamunde no 1.º ano da Divisão de Honra.
Em 91/92 fui para “O Elvas” na 2ª Divisão B, onde me mantive até meio da época 94/95, época em ingressei no Campomaiorense na Divisão de Honra e que viríamos a subir à 1ª Divisão, no final da 95/96 representei o União de Montemor na 2ª Divisão B.
96/97 e 97/98 voltei a representar o “O Elvas” com uma subida da 3.ª para a 2.ª Divisão B em 96/97. Em 98/99 representei o Desportivo de Beja na 2.ª Divisão B e o Lusitano de Évora na 3.ª Divisão, ainda em Évora em 99/2000 subimos da 3.ª para a 2.ªB e terminei a carreira de Futebol 11 na época 2000/2001 no Lusitano na 2.ªB.
Após o terminus no futebol de 11 comecei a jogar futsal e em 2002 ingressei na Sir onde participámos numa edição do Distrital em ficámos em 2º lugar (subiu o Aldeia Velha). No ano transacto participámos no Distrital de futsal tendo conquistado a Taça e Supertaça, no Campeonato ficamos a 1 pto do 1.º classificado. Para além de vários torneios em Espanha, nomeadamente em 2 campeonatos consecutivos onde fomos disputar a fase final a nível da Estremadura espanhola, entre outros torneios, conquistamos o 2.º lugar na Maratona Internacional de Elvas em 2008. Pelo meio ainda representei o CCD do Reguengo numa Maratona em Portalegre onde ficámos em 3.º lugar. O ano passado tive uma experiência nova num torneio de fut4.

Quais os Títulos que destacas?
Os principais, no Futebol de 11, a conquista do título de Campeão Nacional da 2.ª Divisão - Zona Centro e consequente subida à 1.ª Divisão Nacional terão sido o mais importante, no futsal para além de vários troféus individuais merecem destaque a Taça e Supertaça, do ano anterior.

Em que fase do trajecto desportivo, sentiu que era o salto para a afirmação?
Quando saí de Évora para Viseu, foi uma mudança radical, a saída de perto da Família e dos amigos e a partida “à procura de novos horizontes”. Foi o “tudo ou nada”.

Chegaste a profissional?
No futebol de 11 fui sempre profissional desde os 17 anos até terminar a carreira.
No futsal é apenas por “amor à camisola”.

No futebol frequentaste os grandes palcos nacionais? Que recordações ainda guardas?
Todos eles felizmente, ficar-me-á para sempre na memória o 1.º jogo na 1.ª Divisão, pelas diferentes contingências, vinha de uma cirurgia grave (6 meses parado) e o jogo foi com o Benfica. E também um jogo em Alvalade (Clube de sempre e do meu ídolo de infância - Victor Damas) onde perdemos 2-0 mas as coisas a nível pessoal correram bem.

(*) Como é que consegue manter o nível exibicional tão elevado apesar da idade?
Obrigado pela observação, é necessário um misto de: concentração, previsão das jogadas, não ter medo de intervir mesmo correndo o risco de errar, coordenação com a equipa e alguns reflexos na hora de intervir, acho que não existem segredos para tal. Em relação à idade enquanto sentir que posso ser útil à equipa vou continuar a desfrutar de uma actividade que gosto.

Tinhas e ainda tens cuidados com a alimentação?
Tinha e continuo a ter. Ganhei esse (bom) hábito enquanto profissional, mantê-lo não é difícil porque me sinto bem assim.

Tens algum conselho a partilhar?
Como em tudo na vida é necessário gostar daquilo que fazemos para que nos sintamos satisfeitos, na prática do futsal penso que essa máxima também se aplica devemos divertir-nos com empenho e seriedade nessa actividade e certamente os objectivos a que nos propomos ficam mais próximos.

Como se transforma a pressão do balneário e das bancadas, dentro de campo?
Depende da personalidade de cada um, pessoalmente sempre achei que os grandes jogos nos dão mais “gozo” de jogá-los e a concentração e tranquilidade aumentam.

(*) Qual o estado de espírito que encara cada jogo? Qual a sua maneira de ver cada jogada defensiva?
Procuro encarar o mais serenamente possível cada partida e transmitir isso aos colegas sempre que possível. Cada jogada defensiva tem a sua história, depende do adversário e dos executantes no entanto a concentração, a noção do espaço que se está a ocupar em função do desenrolar da jogada e o tentar agir rápido sem precipitação deverá ser uma constante.
Quero dar-te os parabéns, porque é relevante ter 17 anos participar num campeonato sénior e fazer parte de uma equipa que tem sido uma surpresa agradável neste campeonato.

O treino dado ao posto de guarda-redes, numa grande maioria de equipas é descurado. Concordas? O que falha?
Sem dúvida que concordo, é um posto muito especifico, em qualquer modalidade (em que exista GR). Não é necessário que quem dê esse treino tenha sido também GR (mas pode ajudar), é necessário sim sensibilidade para as dificuldades inerentes à posição.
O que falta? Penso que seja para além de dificuldades de espaço para treino em alguns casos, existe também a necessidade de formação para esses cargos.
Penso que seria oportuno realizar cursos de treinadores de futsal na Associação de Portalegre (não tirando o mérito de quem neste momento desempenha as funções de treinador, acho que para eles seria uma mais valia e para os restantes quem sabe um inicio de carreira) e se possível em paralelo formação de posições especificas como a de GR.

Que diferenças existem no treino para uma baliza de futebol 11 e uma de futsal?
Não tenho muita experiência no treino de baliza para futsal mas as diferenças são grandes, no futsal acontece tudo muito mais rápido, os lances ao nível do solo são muito importantes, o espaço a defender é diferente, etc.

Quais as semelhanças e diferenças para se defender numa baliza de futsal e uma de futebol 11?
Semelhanças: Noção do espaço ocupado, concentração, agilidade, velocidade de reacção.
Diferenças: Maior velocidade de reacção, pensar e executar mais rápido.
Existem mais diferenças e semelhanças certamente

Quem sabe defender bem numa baliza de futebol 11, sabe fazê-lo ainda melhor numa de futsal?
Não necessariamente, existem muitas diferenças nas abordagens aos lances. Lembro-me que tive dificuldade na adaptação nomeadamente na forma de ir aos lances no solo.

Qual o grau de dificuldade dos livres de 10m ou dos pénaltis, para quem defende e para quem marca?
Quem marca tem mais a perder do quem defende (acho).

(*) Tendo em conta a sua experiência o que é que mais influência num grande jogo? Tranquilidade mental, confiança ou a preparação física?
Sandra, a tranquilidade em excesso pode prejudicar (vulgarmente conhecida como “excesso de confiança”) tem que haver um equilíbrio mental/racional. É necessária uma auto-estima grande para que esse equilíbrio exista, isso é um exercício interessante e difícil que o próprio terá que realizar ao longo da sua existência muitas vezes em situações adversas. A preparação física é importante para elevar os outros níveis caso existam.

(*) "...como consegues manter essa boa forma e o que pensas fazer quando acabares esta tua carreira de futsalista…"
Amigo Renato obrigado pelas tuas “palavras”, há uma coisa importante que me tem guiado nesta fase “pós futebol 11”, para além de gostar do desporto em geral e do futsal em particular tenho tido a sorte (para além de uma exigência minha para comigo) das equipas onde tenho jogado terem sido (e são) formadas por elementos de qualidade desportiva e humana e isso mantém-nos com vontade de continuar.
Quando terminar (até que as pernas forem aguentado) logo se verá não tenho nada em mente.Tive uma experiencia de treinar Gr de futebol 11 (camadas jovens) no último ano da carreira que foi muito gratificante. Veremos o que poderá acontecer.

O que consideras ser necessário para se melhorar o futsal no distrito de Portalegre?
Penso que deveria ser dado um pouco mais de atenção ao futsal em Portalegre (distrito), existem excelentes praticantes, é pena não existir outra equipa ( o Eléctrico está na III Div. Série C e a realizar boa campanha), no último ano não entrou qualquer equipa do nosso distrito nem na representação na Taça de Portugal.
Um reparo à Associação (que lá terá as suas razões e dificuldades, mas os clubes também as enfrentam), embora não seja um “caso de vida ou morte” faz parte das regras do futsal existir “mesa” nos jogos e não apenas os 2 árbitros.
Uma vez mais acho que a formação é necessária nesta modalidade (como em todas).

Perante um convite recusado, se o tempo voltasse a trás, o que mudavas?
Costumo agir em consciência, nem sempre optamos pelas melhores hipóteses, mas acho que não mudaria nada.

O M. Sardinha atingiu tudo a que se propôs, ou o que falta fazer?
De forma alguma, seria dizer que estava estagnado e parado no tempo, penso que estamos sempre a aprender até ao fim da nossa existência, existem sempre projectos novos e interessantes. Falta-me entre outras coisas ver as minhas filhas realizadas na vida, para lá caminham.

Sentes que és uma referência? Quem o foi ou ainda é, para ti?
Não fazia ideia, vejo que existem jovens que se interessam pelo que fiz e continuo a fazer desportivamente, fico sensibilizado, um conselho: não desistam daquilo que gostam de fazer, nem que seja em part-time, faz-nos sentir bem.

Perante as mensagens deixadas na "caixa de comentários", e repara que são honrosos elogios, que comentário fazes?
Não posso deixar de agradecer em particular ao Victor e ao João as suas palavras, fazemos parte de um grupo de amigos e bons atletas que gostam do futsal. Ao Renato que é um bom exemplo de um jogador que dá o que tem em campo. E ao Manuel Grosa que reconheço a sua dedicação à modalidade. Ao João Valente pelo seu Blog e pelo seu esforço na divulgação da modalidade no Distrito. Finalmente agradecer a todos os que aqui postaram os seus comentários desejar a todos as maiores felicidades desportivas e pessoais, sejam adversários, colegas ou simplesmente anónimos.

Ainda tens alguma coisa para aprender?
A aprendizagem termina quando a vida termina. Lá diz o velho ditado “O Saber não ocupa espaço”.

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