segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rolando: Um rei da matemática na raia alentejana


Há menos de dez anos, um miúdo tímido, cabo-verdiano, de nome Rolando, chegava ao Campomaiorense. Para trás, ficou o Batuque Futebol Clube e o bairro da Boavista, em São Vicente. Os pais de Rolando estavam em Madrid mas ali central não conhecia ninguém. Aos poucos, foi fazendo amizades e acabou "adoptado" por Luís Manuel e Rosinda Paio, gerentes de um restaurante em Campo Maior e pais dos melhores amigos de Rolando.

"Era um miudito tímido, reservado, um pouco como é hoje. Passava muito tempo sozinho e começou a ir lá a casa. Até dormia lá", recorda, Luís Paio, "pai" de Rolando (assim o trata o jogador). O central passou três anos em Campo Maior e, sem cachupa, habituou-se à gastronomia alentejana. "Hoje já come uma carne de porco à alentejana, mas naquela altura estranhava", completa o tutor.

Rolando vivia para os estudos e para o futebol. Terminou o ensino secundário "com média de 18 valores" e era craque a matemática. Era conhecido como o "Rei da Matemática" e representou o distrito de Portalegre como melhor aluno. Não fosse o futebol e hoje era engenheiro.

Os melhores amigos eram Luís Miguel e José Duarte, filhos de Luís Paio. José Duarte tratava o amigo por "Rola". Em 2007, dias antes da final da Taça de Portugal entre Belenenses e Sporting, suicidou-se e, na carta que escreveu, não esqueceu Rolando: "Rola, marca aos lagartos".

O jogador ficou arrasado, mas não marcou naquela final. Os leões ganharam com um golo de Liedson. A camisola está no restaurante de Luís Paio: "Tenho três. Duas do Belenenses, uma da final da Taça e outra quando ganharam 4-1 ao Benfica [2004/05] e uma do F. C. Porto, quando foi titular na Luz. Falta uma da selecção nacional."

Esteve com um pé no Boavista, mas acabou à experiência no Belenenses. Manuel José aprovou-o. "Treinou muito desinibido. Fiquei logo impressionado", recorda o seleccionador de Angola.

Hoje, o menino que nunca sonhou vestir um fato na vida vive no Porto, ao lado do filho, da namorada e com os pais.Luís Paio está "de coração dividido". O clube do "filho" e o do coração. "Gostava que fosse o melhor em campo mas, no fim, que ganhe o Sporting", refere. E já se percebeu qual o sonho do "pai": "Adorava vê-lo no Sporting."